Tempo
Não me posso comprometer a escrever um blog todos os dias. A maior parte das vezes não tenho tempo. Aliás, tempo é coisa escassa nos dias que correm. Desde que se inventou "a falta de tempo" da era pós-moderna, que todos usam este argumento para as mais variadas tarefas - falta de tempo para ler, para estar com a família e os amigos, para ir ao teatro... resumindo, falta de tempo para viver. E se há cada vez menos tempo para viver, no jornalismo o tempo é cada vez mais rápido. Diz Ignácio Ramonet que, hoje a informação deve ter a utopia do instantâneo, do "ao vivo" e no local, como se apenas o visível fosse "real". Essa adoração televisiva pela imagem "real" imprimiu a necessidade do ultra-rápido, de estar em todos os lugares, tocar a sensibilidade como se mostrasse o facto, e não reportando-o. O jornalismo "não tem tempo de filtrar, de verificar, de comparar, porque, se perder muito tempo para fazê-lo, outros colegas tratarão do assunto antes dele. E, com certeza, a sua hierarquia não o perdoará". Sem tempo de investigar, contextualizar o facto, reflectir, forçosamente os jornalistas são menos responsáveis e "chega-se a este paradoxo: quanto mais se comunica, menos se informa, portanto mais se desinforma". A superabundância de notícias, "directamente e em tempo real", dá à notícia a emoção do facto vivido, mas confunde "informação com actualidade, jornalismo com testemunho". Por ser preciso condensar em poucos minutos a "actualidade" do dia, todas as notícias, inclusive as mais triviais e as de puro entretenimento, competem em tempo e espaço e adquirem o mesmo valor. E assim o espectador vai assistindo à "realidade", no sofá, sem se questionar, sem reflectir, porque já recebe o facto "actualizado", pronto e pré-conceptualizado por outrem.
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