Geometrias
Em dias de pouco sono, a madrugada é a companhia das manhãs. Nasce o sol, rasteirinho, junto aos olhos que se encerram. O jardim da cidade transforma-se nos lençóis de abrigo e o banco da frente na almofada do sossego. Só na banca de jornais há agitação. Guardam-se os velhos em caixas de devolução. Expõem-se os novos aos olhos que passam apressados, para picar o cartão.
Neste jardim sem flores, só o meu banco ocupado folheia as notícias de ontem. Há um quadrado de relva, perfurado por troncos cilíndricos, onde os cães se encostam para pingar. Há uma escultura abastada, com seios redondos a brotarem do vestido de pedra. Há sombras triangulares, desenhadas no chão, que se movem com os ponteiros do relógio. É um jardim geométrico, no topo desta cidade, que desce em socalcos até ao fundo do vale. Um jardim solitário, num início de manhã com sol.
3 Comments:
A escrita da Patrícia é zen, fenomenologica.
Fantástico como consegues dizer tudo.
Jardim das Virtudes?
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