website metrics Pensamentos: A Cadeira de Corbusier

sábado, maio 21, 2005

A Cadeira de Corbusier

Quando imagino o espectador, sentado no sofá, a olhar a televisão, não posso deixar de fazer uma analogia com o paciente, deitado na cadeira de Corbusier, num qualquer consultório de psicanalista. O que ambos procuram é encontrar-se a si próprios, rever-se na realidade que encaram.
A única diferença entre as duas situações consiste na animosidade do processo. A televisão fornece os modelos sociais e o espectador, mais passivo, limita-se a escolher o seu "eu". Já no psicanalista, o paciente procura criar a personagem para depois se identicar. Mas é ali que o cordeiro despe a pele e encarna o crocodilo, estendido na cadeira de Corbusier.
Frente à televisão, tão escravo o espectador se tornou que tenta vestir a pele de crocodilo, para fugir à prisão de emoções e paradigmas, à qual a televisão o submete. Por isso, perante o aparelho de difusão, no seu íntimo, o espectador procura o crocodilo que há dentro de si.
E enquanto o psicanalista analisa o perfil do paciente, o espectador é livre e está isento da condenação de terceiros.
É por isso que, frente à televisão, só consigo imaginar um crocodilo, refastelado na cadeira de Corbusier, à procura de se encontrar entre o zapping e a anestesia.