website metrics Pensamentos: maio 2005

terça-feira, maio 31, 2005

A Flor de Lótus do Amor Universal

"Cada uma de nossas acções conscientes e, de certa forma, toda a nossa vida podem ser vistas como resposta à grande pergunta que desafia a todos: "Como posso ser feliz?"
S. S. Dalai Lama

"Portugueses são os mais irritados da Europa"

De acordo com um estudo da euro-sondagem, divulgado pelo Portugal Diário, já lá vai o tempo em que o português era povo de brandos costumes. Parece que somos mesmo "os mais irritados da Europa".
Mas o facto até se compreende, senão vejamos:
- temos um défice de 6,83%;
- vamos pagar 21% de IVA;
- somos, "orgulhosamente", os menos produtivos;
- pelo país correm as águas do rio mais poluído da Europa;
- ...
Como dizia um professor que tive na Universidade, "graças a Deus, em tudo o que é desgraça ficámos à frente!"
Mas o mesmo estudo da euro-sondagem aponta os russos como os que menos se irritam. Considerando os problemas de emprego, educação, saúde, que o país atravessa, não se entende o desespero português. Ou estarão os russos mais preocupados com o futuro do país, para se irritarem com atitudes comezinhas?

sexta-feira, maio 27, 2005

Onde Anda Você

E por falar em saudade, onde anda você,
onde andam seus olhos que a gente não vê,
onde anda esse corpo, que me deixou louco de tanto prazer.

E por falar em beleza, onde anda a canção que se ouvia
na noite dos bares de então, onde a gente ficava,
onde a gente se amava, em total solidão.

Hoje eu saio da noite vazia, numa boemia sem razão de ser.
Da rotina dos bares, que apesar dos pesares, me trazem você.

E por falar em paixão, da razão de viver,
você bem que podia me aparecer.
Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares, onde anda você.
Vinicius De Moraes

quinta-feira, maio 26, 2005

Apertar o Cinto

Pode parecer cliché, mas é isso que nos estão a pedir - para apertar o cinto. Finalmente, foram anunciadas as medidas do Governo de combate ao défice. Mais impostos, mais sacrícios, maior contenção. A classe média parece estar ainda mais apertada, quase esmagada, e ainda assim estas medidas não são suficientes.
O fim das regalias da Função Pública é bem-vindo, mas é pouco; além disso, ficamos com a sensação que por muito que nos estejam a pedir, não vamos conseguir a retoma económica nos próximos tempos. Isso significa que temos de fazer sacrifícios, sem uma recompensa à vista. E assim, sem um "rebuçado", torna-se difícil apertar o cinto.

quarta-feira, maio 25, 2005

Sonhar ou Agir

Tenho que escolher o que detesto – ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a acção, que a minha sensibilidade repugna; ou a acção, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.
Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra.
in "Livro do Desassossego", de Bernardo Soares
(pela mão de Fernando Pessoa)

segunda-feira, maio 23, 2005

Onde vai parar o défice

A União Europeia vai iniciar um procedimento contra a Itália por causa do défice excessivo. No último ano, as contas italianas ultrapassaram uma décima do limite estabelecido por Bruxelas.
Em Março, Portugal já ultrapassou 3,83% dessa barreira. É o maior défice da zona Euro.
Ainda não se conhecem as consequências para a Itália dessa "mísera" décima, acima dos 3%. Mas, para Portugal, as consequências serão, com certeza, a doer. Vamos já começar a pagar a factura do défice no IVA. Provavelmente outros aumentos se seguirão. E, em relação à Europa, o que nos irá acontecer?...

Hoje é domingo

Hoje é domingo. Só este dia da semana já é um bom motivo para não pensar. Ainda por cima, de repente, parece que ficaram todos doentes, com a febre do futebol. Não vou fazer comentários. A melhor censura é o silêncio...

sábado, maio 21, 2005

A Cadeira de Corbusier

Quando imagino o espectador, sentado no sofá, a olhar a televisão, não posso deixar de fazer uma analogia com o paciente, deitado na cadeira de Corbusier, num qualquer consultório de psicanalista. O que ambos procuram é encontrar-se a si próprios, rever-se na realidade que encaram.
A única diferença entre as duas situações consiste na animosidade do processo. A televisão fornece os modelos sociais e o espectador, mais passivo, limita-se a escolher o seu "eu". Já no psicanalista, o paciente procura criar a personagem para depois se identicar. Mas é ali que o cordeiro despe a pele e encarna o crocodilo, estendido na cadeira de Corbusier.
Frente à televisão, tão escravo o espectador se tornou que tenta vestir a pele de crocodilo, para fugir à prisão de emoções e paradigmas, à qual a televisão o submete. Por isso, perante o aparelho de difusão, no seu íntimo, o espectador procura o crocodilo que há dentro de si.
E enquanto o psicanalista analisa o perfil do paciente, o espectador é livre e está isento da condenação de terceiros.
É por isso que, frente à televisão, só consigo imaginar um crocodilo, refastelado na cadeira de Corbusier, à procura de se encontrar entre o zapping e a anestesia.

Tempo a mais

Foi preciso esperar quase seis anos, desde a entrada das tropas da ONU em Timor, para a chegada da equipa que vai investigar a onda de violência no mais jovem país do mundo. É demasiado tempo para as famílias dos mais de mil timorenses que morreram nessa altura; é demasiado tempo para investigar o sofrimento dos timorenses que lutavam por uma nação independente.
Ainda assim, Jacarta chegou a negar o visto de entrada na Indonésia aos três elementos que compõem a comitiva da ONU. Seis anos pode ser demasiado tempo para começar a "investigar", mas é ainda pouco tempo para a Indonésia se redimir.
E o jovem país tem ainda um longo caminho a percorrer, para formar e estabelecer uma democracia. Em 30 anos, Portugal ainda não o conseguiu. Talvez o pupilo mais novo aprenda a lição mais cedo do que o seu tutor.

Nota: Marco Martins ganhou hoje o prémio "Regards Jeunes", no Festival de Cinema de Cannes, com o filme "Alice"... VIVA O CINEMA PORTUGUÊS!

quinta-feira, maio 19, 2005

Desenraizada

Muitas vezes ouvi falar de "desenraizados", quase sempre em relação aos imigrantes. Mas nunca senti a palavra na sua verdadeira dimensão.
Aos 19 anos mudei-me para Paris, sozinha. Devo confessar que não tenho uma simpatia especial pelos franceses, mas nunca me senti deslocada naquela cidade fantástica, submersa em cultura. Há sempre um concerto de Jazz no bar da esquina, uma exposição itenerante nas galerias junto ao Sena, já para não falar dos museus e monumentos em se tropeça em cada rua. O único problema da cidade é o céu quase sempre nublado, que dá um ar soturno aos dias em que se passeia nas margens do Sena, de Notre Dame ao Louvre.
Dois anos depois vivi em Lisboa. Aí, o sol brilha quase sempre e os passeios pela Marginal são um prazer. Ao contrário do que agora acontece, na altura não conhecia ninguém na capital. Mas respirar naquela cidade nunca foi um problema para mim.
Agora estou bem mais perto do meu berço, mas a distância é apenas relativa. Desenraízada? Não sei. Sinto-me deslocada das minhas vivências, longe dos meus interesses, fora do meu mundo. Na cidade onde nada acontece, a única solução é esperar pelo dia de manhã.

terça-feira, maio 17, 2005

Tempo

Não me posso comprometer a escrever um blog todos os dias. A maior parte das vezes não tenho tempo. Aliás, tempo é coisa escassa nos dias que correm. Desde que se inventou "a falta de tempo" da era pós-moderna, que todos usam este argumento para as mais variadas tarefas - falta de tempo para ler, para estar com a família e os amigos, para ir ao teatro... resumindo, falta de tempo para viver. E se há cada vez menos tempo para viver, no jornalismo o tempo é cada vez mais rápido. Diz Ignácio Ramonet que, hoje a informação deve ter a utopia do instantâneo, do "ao vivo" e no local, como se apenas o visível fosse "real". Essa adoração televisiva pela imagem "real" imprimiu a necessidade do ultra-rápido, de estar em todos os lugares, tocar a sensibilidade como se mostrasse o facto, e não reportando-o. O jornalismo "não tem tempo de filtrar, de verificar, de comparar, porque, se perder muito tempo para fazê-lo, outros colegas tratarão do assunto antes dele. E, com certeza, a sua hierarquia não o perdoará". Sem tempo de investigar, contextualizar o facto, reflectir, forçosamente os jornalistas são menos responsáveis e "chega-se a este paradoxo: quanto mais se comunica, menos se informa, portanto mais se desinforma". A superabundância de notícias, "directamente e em tempo real", dá à notícia a emoção do facto vivido, mas confunde "informação com actualidade, jornalismo com testemunho". Por ser preciso condensar em poucos minutos a "actualidade" do dia, todas as notícias, inclusive as mais triviais e as de puro entretenimento, competem em tempo e espaço e adquirem o mesmo valor. E assim o espectador vai assistindo à "realidade", no sofá, sem se questionar, sem reflectir, porque já recebe o facto "actualizado", pronto e pré-conceptualizado por outrem.