website metrics Pensamentos: agosto 2005

quarta-feira, agosto 31, 2005

deputado, poeta... Alegre

No bengaleiro do mercado público
penduram o coração.
Vestem o fato dos domingos fáceis.
Não têm rosto
têm sorrisos muitos sorrisos
aprendidos no espelho da própria podridão.
Têm palavras como sanguessugas.
Curvam-se muito.
As mãos parecem prostitutas.
Alma não têm. Penduram a alma.
Por fora parecem homens.
Custam apenas trinta dinheiros.
Trinta dinheiros, Manuel Alegre

Manuel Alegre quer continuar a ter alma...

terça-feira, agosto 30, 2005

Memórias de luz

Patrícia, Fevereiro de 1999

Naquela altura, os sonhos voavam bem alto, eram (quase) inalcansáveis... e pareciam possíveis!
Percorrer as ruas de galerias, passear junto ao Sena, beber chocolate quente no Louvre, eram banalidades que agora invejo.
Tenho saudades da escadaria de Montmatre;
saudades do cheiro a Croissants nas estações de Metro;
saudades das estátuas humanas espalhadas pela cidade;
saudades do friozinho de Março;
saudades até do céu, sempre cinzento, a pairar sobre a minha cabeça.

segunda-feira, agosto 29, 2005

... que as há, há!

Os Maias, na América pré-colombiana, conceberam um calendário muito particular e extremamente avançado para a época. Eles conheciam o tamanho do ano e o dividiam-no em 18 meses de 20 dias, cada um dedicado a um deus, mais 5 dias "de azar" adicionais.
Ora, foi aqui que os Maias erraram. Os 5 dias de azar acabam por calhar a todos... e hoje não me apetecia nada ser eu a vítima.

domingo, agosto 28, 2005

Um Amor Feliz

Le couple heureux qui se reconnaît dans l'amour, défie l'univers et le temps; il se suffit, il réalise l'absolu.
in: Le deuxième sexe, Simone du Beauvoir

sábado, agosto 27, 2005

Ainda bem...

Ainda bem que é fim-de-semana,
ainda bem que estou no Porto,
ainda bem que há alguma coisa para fazer...

quinta-feira, agosto 25, 2005

Sons do dia

Knoc, knoc.
Quem é? Que surpresa!
Shuuuuuaaaaack...
É tão bom ter-te aqui!

quarta-feira, agosto 24, 2005

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Tomo a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca

terça-feira, agosto 23, 2005

Imaginário

Charlie and the Chocolate Factory

Tim Burton continua a criar mundos paralelos, que me transportam para o imaginário. Johnny Depp continua a surpreender.

segunda-feira, agosto 22, 2005

É domingo!

Um carro, com luzes azuis a piscar no tejadilho, apita para atravessar a multidão de espectadores. Os bombeiros correm, puxam mangueiras, tentam impedir que o fogo entre numa casa.
As mulheres, salto-alto, blusa de lantejolas, saia de festa, assistem ao espectáculo. É domingo!
Uma mão arrasta a filha, arrancada da cama a meio da noite, para "ver o fogo". É uma e meia da manhã, a menina deve ter 4, 5 anos, tem os olhos carregados de sono, e está ali, para "ver o fogo". É domingo!
Os homens falam ao telemóvel, uns estão de mãos nos bolsos, outros de braços cruzados. Um deles segura um ramo de árvore, pouco maior que um bouquet de noiva, desmaiado nas mãos sem utilidade. É domingo!
Luzes! Câmara! Acção!
Subitamente, aquele cenário ganha vida, como se acordasse de um sono adormecido. Os homens correm para as mangueiras, ajudam os bombeiros, carregam baldes de água, para matarem a sede às chamas. As mulheres encostam-se ao microfone desligado e conversam entre si, com ar (des)entendido. Algumas têm um leve sotaque francófono. Falam do que viram, do que ouviram, do que sabem daquele incêndio, ali às portas da casa.
Todos procuram os "15 minutos de fama" que Warhol lhes fez crer que têm direito. É domingo!

domingo, agosto 21, 2005

Mais do mesmo

Por muitas voltas que dê, acabo sempre por voltar a um ciclo vicioso que parece não terminar. Por muitas voltas que dê, não me consigo libertar desta sina que, volta meia, teima em regressar.
Quando esta fase terminar já só vou conseguir respirar de alívio e dormir... dormir!

sábado, agosto 20, 2005

Moloi:

Encontrei um livro entre a correspondência da casa da serra. Os desenhos são bonitos; os textos e os poemas ainda não li, mas ao folhear encontrei um conselho que não vou ignorar:

hoje

quero escrever com
a pressão natural
das marés

hoje

in: a arca de poÉ, Paulo Luiz Barata

sexta-feira, agosto 19, 2005

Em movimento

Neste fim de tarde de regresso, não consigo fugir a uma fila interminável. Dois quilómetros à frente há um acidente. E eu aqui, na fila.
Neste pára-arranca sem pressas até tenho tempo para olhar em redor. Nos outros carros há malas de viagem, alguns estão cheios até ao tejadilho, com fragmentos das férias. Não sei se partem, não sei se voltam, mas de qualquer maneira estão em mudança... e isso já seria bom.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Janela para o Mundo

Mais um dia. Continuo a ver o mundo pela janela deste quarto. Lá fora está um calor sofucante, nem uma brisa, mas o fogo não chega aqui. No céu, só consigo ver e cheirar o fumo de outras paragens, lá longe, longe daqui.
Mas enquanto a terra continua em chamas é daqui que vejo o mundo, da janela deste quarto. Como queria sair, ver outras janelas, outros mundos, estar contigo... mas enquanto a terra arde, mesmo que não seja aqui, só posso ver o mundo da janela deste quarto.

terça-feira, agosto 16, 2005

Noite de Saudade

A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!

Por que és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!
Florbela Espanca

O resto é Paisagem

Campo de trigo com corvos, Van Gogh
Vejo o mundo pela janela do quarto. Raramente saio desta vida, quase sempre me refugio nas paredes que se intercalam entre mim e a liberdade. Passo as horas a olhar pela janela, vivo os minutos que se arrastam, respiro os segundo que parecem intermináveis.
Se saísse do quarto talvez encontrasse outro mundo lá fora, mas temo que a realidade seja ainda mais tenebrosa do que a minha imaginação. Por isso, continuo neste quarto, rodeada pelas paredes que me envolvem, a ver o mundo pela janela.

segunda-feira, agosto 15, 2005

Presa às chamas

Não me interpretem mal - até tenho preocupações ecológicas, mas não resisto a citar alguém que conheço: "A culpa é das árvores".

domingo, agosto 14, 2005

Carta ao Oceano

Ó Grande Alma trágica e sombria!
Quando hás-de enfim, na campa repousar?
Após a luta persistente e fria,
Ah, quanto é bom morrer... dormir... sonhar...

Estrebuchas nas ânsias da agonia,
Há mil e tantos séculos, ó Mar!
E nunca cessas de lutar, um dia,
E nunca morres, Alma singular!

Mas, ao chegar teu último momento,
Quando zurzir nos ares a metralha
Da tua alma desfraldada ao vento:

Envolto nessa líquida mortalha,
Tu cairás prostrado, sem alento,
Como um guerreiro ao fim d'uma batalha!
in: , António Nobre

sábado, agosto 13, 2005

A cruz de Maria Cruz

Lá estava ela. Maria Cruz isolou-se do mundo para cumprir um objectivo. Mas ninguém dava muita importância à tarefa que Maria desempenhava, a não ser ela própria.
Maria Cruz tinha que traçar cruzes dentro de quadrículas que enchiam as folhas de um caderno. Não tinha de as preencher todas, apenas algumas. As outras não eram da sua competência.
E Maria preenchia as suas quadrículas com afinco. Fazia deslizar a caneta pelo papel, para traçar as cruzes mais perfeitas. Com cuidado, para não ultrapassar os limites, mas bem desenhadas para as cruzes encherem o quadrado de orgulho, para lhe encherem as medidas. Mas só Maria Cruz considerava aquele objectivo importante. Os outros pensavam que aquele perfeccionismo era perda de tempo - afinal, são apenas cruzes!
O pior é que Maria não desenhava as cruzes sozinha. Ela precisava de alguém que lhe segurasse as folhas, que lhe desse caneta, que a apoiasse na sua árdua tarefa. E nem sempre alguém estava disposta a ajudá-la. Mas Maria Cruz não desmorecia. Continuava na sua vida, isolada do mundo, mas concentrada nas cruzes, para o traço das suas ser o mais perfeito, para não ultrapassar os limites mas preencher todo o quadrado.
Maria continua a acreditar que as suas cruzes têm de ser as mais perfeitas. Muitas vezes não o são, é certo!, mas Maria Cruz não desiste de continuar a tentar.

sexta-feira, agosto 12, 2005

6 meses a caminhar

Datas são apenas números - valem o que valem. Na minha óptica, valem muito pouco. Mas não podia deixar em branco esta data que é só minha... (e tua!)
A noite estava fria, um chá caía bem. E lá fui eu, aquecer o estômago, impulsionada por um convite teu, um convite para um chá. Assim que entrei naquele cantinho da tua vida, perdi-me nas ruas que percorres, perdi-me nos trilhos da tua mente, nos caminhos da tua vida.
Tem sido uma caminhada lenta, entrecortada por longas pausas. Às vezes caminho em passo apressado, outras vezes saboreio o momento, aprecio a paisagem. Nem sempre é fácil caminhar. Por vezes penso até em recuar, mas acabo por desistir de voltar para trás.
De qualquer maneira, mesmo que quisesse regressar ao ponto de partida, para sair desta estrada que atravessa a tua vida, já não seria capaz de encontrar o caminho de regresso. Agora já não há nada a fazer...

quinta-feira, agosto 11, 2005

O lugar do Riscas

Depois de anos a fio a viver nos Mares do Norte, o Riscas emigrou para o sul. Não tardou muito a perceber que não estava em casa, que lá não era o seu lugar. Tentou adaptar-se entre os jardins de coral e as florestas de anémonas, tentou encontrar um canto iluminado para se aconchegar.
Vagueou sozinho nos Mares do Sul, passeou por desfiladeiros de apatia, rios de tristeza, oceanos de solidão. Todos os dias pensava nos Mares do Norte, nos cardumes que lá conhecia, nas algas com quem falava, nos jardins de anémonas que percorria ,sem nunca se cansar de nadar.
Mas, o Riscas continua nos Mares do Sul. Continua a nadar entre as rochas desconhecidas e os corais, mesmo sabendo que não é lá o seu lugar.

quarta-feira, agosto 10, 2005

O regresso

Foto: Nasa
Não foi apenas a triulação do Discovery que regressou "à Terra". Também eu aterrei no deserto, com uma suave brisa, tão fraca que não é capaz de encher as velas para me fazer navegar, rumo a outro destino...

domingo, agosto 07, 2005

Silêncio...

Hoje há apenas um silêncio ensurdecedor. Entre as paredes e as portas, há apenas a solidão que me acompanha diariamente. A quilómetros da felicidade, resigno-me ao lugar onde estou...

sábado, agosto 06, 2005

60 Anos Depois

O Recreio

Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar -
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...

- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...

Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...

- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...

Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...

- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...
Mário de Sá Carneiro

sexta-feira, agosto 05, 2005

Porquê?

É um grito mudo, um grito surdo, um grito cego...
Um grito dado em silêncio, que ninguém vai ouvir, para ninguém ver.
Um grito que bate nas paredes e não sai deste lugar.
Um grito de agonia, que não chega a ecoar.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Outros Mundos

Foto: Nasa
Recentemente, em 2047, depois de muitos ensaios e sobrevoos, a NASA tinha completado com sucesso a primeira missão tripulada a Marte. Os cosmonautas terráqueos passaram três meses no Planeta Vermelho e regressaram com quese meia tonelada de amostras. A análise preliminar deste material ficou pronta e foi tornada pública no Outono de 2048. As conclusões pareciam inequívocas. O facto é que o permagel provava que a água tinha outrora fluído na superfície marciana, em generosas quantidades, como era já evidente pelos rastos de degelo nos sistemas de desfiladeiros e vales. Mas, por outro lado, a missão Sojourner 3 podia chegar sem nada para rebater o veredicto da esterilidade ancestral. (...)
...a Terra tinha-se praticamente emparedado em lixo espacial. Foi preciso varrer para fora do céu quinhentas unidades para abrir caminho à Sojourner 4.
(...) Aparentemnte, Marte não poderia sequer sustentar um verme segmentado com um centésimo da espessura de um cabelo. Marte parecia morto a esse ponto.
in: O Prefeito de Marte, de Martin Amis

quarta-feira, agosto 03, 2005

Mergulhar no Silêncio

Existe um mundo para lá das palavras, dos conceitos e abstracções. Um mundo onde a experiência é directa e indescritível. Aqui o coração fala e a mente escuta. É uma oportunidade para despir a superficialidade dos nossos enredos habituais e mergulharmos mais fundo. O elemento transformador da nossa experiência é a tomada de consciência que se aprofunda a cada instante.
retiro Mergulhar no Silêncio
orientado por Sagarapriya

terça-feira, agosto 02, 2005

Confiança e Coragem

Juntamente com a confiança, temos que desenvolver a coragem. Temos que acreditar que vamos conseguir o que pretendemos, em vez de pensar que vamos falhar. Falhar não é sinal de fraqueza. Pelo contrário, é sinal de que tentámos. Temos que ter a coragem para pensar que, se falhei, tentarei de novo até conseguir. Por vezes, quando subimos uma montanha podemos dar algumas quedas, mas isso só significa que estamos a tentar, e que o nosso objectivo é chegar ao destino.
do mestre Tulku Pema Wangyal Rinpoché
Excerto da conferência em Portugal, 25/07/2005

segunda-feira, agosto 01, 2005

Os trabalhadores do Comércio

Acabou o "Comércio do Porto".
Parece que era apenas uma inevitabilidade, mas é muito mais do que isso...
São rostos e histórias de trabalhadores (jornalistas e não só) que se apagam da imprensa, mas que continuam vivos na internet, para quem os quiser ler.
http://www.ocomerciodoporto.blogspot.com/