website metrics Pensamentos: junho 2005

quinta-feira, junho 30, 2005

O Príncipe Siddhartha

Siddhartha é um príncipe. Renunciou ao trono do reino do clã Shakya, no sopé dos Himalaias, e instalou-se lá em casa. Mas apesar da renúncia à vida de príncipe, Siddhartha continua a caminhar pela casa em passos majestosos, continua a ocupar a poltrona, como se do seu trono se tratasse, continua a olhar com um ar independente, às vezes até indiferente. Sempre com o (curto) nariz empinado, só dá atenção à porta fechada, que o separa das aventuras amorosas, nas noites de lua cheia. Siddhartha é um príncipe, um companheiro espiritual. Quer tornar-se num mero ente carnal, mas, por enquanto, continua lá em casa.

quarta-feira, junho 29, 2005

Realidade e Ficção

Em televisão, o directo não é o espelho da realidade. A maior parte das vezes, a realidade surpreende mais do que a ficção.

terça-feira, junho 28, 2005

"Eu"

Eu sou a que no mundo anda perdida,
eu sou a que na vida não tem norte,
sou a irmã do sonho,
e desta sorte sou a crucificada...a dolorida...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
e que o destino amargo,triste e forte,
impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!..
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
e que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca

segunda-feira, junho 27, 2005

Eça tinha razão (já em 1871)

Portugal está de novo deprimido, outra vez a entrar na fossa e contra o Governo. As sondagens de hoje não deixa dúvidas - apouco e pouco, os portugueses vão olhando cada vez mais desconfiados para as medidas de José Sócrates. Vendo os resultados deste declínio, recordo as palavras de Eça de Queiroz, impressas na resvista "As Farpas" em, notem bem, Maio de 1871.
"Ninguem crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intellectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretárias para as mesas dos cafés. A ruína economica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentavel. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo."

quarta-feira, junho 22, 2005

O Voo do Pássaro

Neste espaço a si próprio condenado
Dum momento para o outro pode entrar
Um pássaro que levante o céu
E sustente o olhar.

Com a tristeza acender a alegria
Com a miséria atear a felicidade
E no céu inocente da visão
Fazer pulsar um pássaro por vir
Fazer voar um novo coração.
Alexandre O'Neill

terça-feira, junho 21, 2005

O dia mais longo do ano


Templo Celta conhecido como Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora, Vila Nova de Foz Côa


De acordo com a tradição Celta, hoje é o Solstício de Verão. Neste dia, o Sol atingiu a sua plenitude. Para os antigos povos Celtas, é a Festa da Vida (Midsummer). Na noite de Midsummer fadas, duendes e toda a sorte de elementais correm pela terra, celebrando o fervor da vida.
Mas esta é também a data em que o corpo e o físico são reverenciados. Quando os raios do sol diminuem de intensidade, ao cair da tarde, é o momento de nos prepararmos para mais um dia. O povo Celta, assim como outros povos de origem pagã, celebram o começo dos dias através do anoitecer.
Cada anoitecer faz-nos lembrar que a Deusa, com a sua magia e os seus mistérios, reinará através da Lua, das emoções, e das intuições. Mostra-nos que enquanto os homens se acalmam e repousam depois de um dia intenso de trabalho, os sacerdotes e sacerdotisas começam o semear de um novo dia. O Deus, que também descansa durante a escuridão, prepara-se para um novo nascer, para um novo brilhar, para um novo amanhecer.
Esse acordar e dormir, descansar e trabalhar, morrer e nascer, fazem do dia e da noite momentos muito preciosos e de intensa comunhão entre o masculino e feminino. É preciso que as duas polaridades estejam em perfeita sintonia para que a Natureza se possa manter equilibrada. Da mesma maneira, como a imagem refletida é o complemento da imagem projectada, homens e mulheres precisam de se juntar para que a comunhão perfeita entre o Deus e a Deusa possa reflectir momentos de intensa união e perfeição.
Assim, o Solstício de Verão é também a união entre o Deus e a Deusa. O Deus chega ao ponto máximo do poder. Esse é o ápice do Verão, quando o Deus e a Deusa se encontram em plena juventude e com toda a energia da vida ascendente.
É hora de pedirmos coragem, energia e saúde. Mas não nos devemos esquecer que, embora o Deus esteja em plenitude, é nessa hora que ele começa a declinar. Em breve, Ele dará o último beijo à sua amada, a Deusa, e partirá no Barco da Morte, em busca da Terra do Verão. Devemos não só nos ligarmos à plenitude, mas também aceitar o declínio e a Morte.
Informações recolhidas no livro: Tradições Celtas

domingo, junho 19, 2005

100 dias depois

Já lá vão 100 dias desde que Sócrates assumiu os destinos do país. No início discreto e sereno, o primeiro-ministro transformou-se quando foi anunciado o défice - e toca a legislar, a levar a cabo reformas, mais ou menos de fundo, a pôr em causa "direitos adquiridos".
No dia 11 de Maio, o ministro das Finanças anuncia que é necessário cortar, na legislatura, 4 mil milhões de euros na despesa do Estado. De lá para cá, a única medida que trará efeitos imediatos é a subida do IVA, que, pelo que me parece, não corta na despesa do Estado, mas aumenta as receitas, às custas dos portugueses.
O corte dos direitos adquiridos pelos políticos, que em nada me incomoda e, pelo contrário até aplaudo, só dará frutos a médio/longo prazo.
Mas há outras medidas, que em nada se relacionam com questões económicas, que estão por consumar. A bandeira do aborto, tantas vezes agitada em campanha eleitoral, continua por hastear; o plano tecnológico continua por apresentar e os 150 mil empregos estão por criar.
Hoje há eleições na Galiza. Dizem os especialistas que ganhe quem ganhar haverá uma mudança de atitude. Já na Guiné não se esperam muitas mudanças, apenas um regresso ao passado, seja ele qual for. O voto continua a ser o instrumento da democracia, embora seja cada vez menos eficaz. As alternativas são igualmente más ou piores que os eleitos, e na hora do escrutínio só há uma coisa a fazer - optar pelo menos mau.


Fotografia de Joël Robine, presente na exposição comemorativa em Paris
PS - A organização Repórters Sem Fronteiras está de parabéns. São 20 anos de luta, que merecem ser assinalados.

Saudades

Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!

Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungido
Suportará toda distância sem problemas...

Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.

Lembrar-te-ás toda a ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão.
Guimarães Rosa

sábado, junho 18, 2005

Para Viver Melhor

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não arrisca vestir uma cor nova e não fala com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro ao invés do branco e os pingos nos is a um redemoinho de emoções, exatamente a que resgata o brilho nos olhos, o sorriso nos lábios e coração aos tropeços.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto, para ir atrás de um sonho.
Morre lentamente quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, ouvir conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte, ou da chuva incessante.
Morre lentamente quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, nunca pergunta sobre um assunto que desconhece e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em suaves proporções, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples ar que respiramos. Somente com infinita paciência conseguiremos a verdadeira felicidade.
Pablo Neruda

quinta-feira, junho 16, 2005

Igualdade de sexos em 2185

Diz o Portugal Diário que "Portugal só alcançará em 2185 uma paridade aproximada entre homens e mulheres". Bem vistas as coisas, 180 anos passam a correr. Gostava de assistir a este momento histórico, mas "desconfio" que o grande acontecimento já não seja para mim... pelo menos nesta encarnação. Talvez na próxima!

quarta-feira, junho 15, 2005

Amigos até ao Fim

Começo outra vez, do início. E por onde poderia começar senão do princípio. Folheio-o da primeira à última página e sinto nele aquele cheiro a papel, a tinta impressa em cada página. Diz a Mafaldinha que "um livro é um bom amigo"; eu espero que sejamos "Amigos até ao Fim" (John Le Carré).

terça-feira, junho 14, 2005

Desterrado


Terminei de ler o "Equador". Durante toda a obra, vi-me reflectida na personagem que enche as páginas do livro. Luís Bernardo é enviado para S. Tomé, como Governador. Vai a contra-gosto. Sinto-me assim, como Luís Bernardo Valença, "desterrado numas ilhas em pleno Atlântico, a oito mil quilómetros de Lisboa, onde só chegam jornais, correio e notícias uma ou duas vezes por mês! Ópera, teatro, bailes, concertos, corridas de cavalos, um simples passeio à beira-Tejo, nada! Selva e mar, selva e mar! Com quem vou conversar, com quem vou almoçar, com quem vou jantar..."
Luís Bernardo não aguentou a solidão de viver desterrado, longe do seu mundo. Eu espero aguentar, pelo menos até regressar ao meu mundo.

O Lugar da Casa

Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino:
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abrilou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.
Eugénio de Andrade

sexta-feira, junho 10, 2005

Política de Géneros

PARIDADE NO PODER LOCAL
"Um conjunto de mulherres socialistas organizou um encontro com o único objectivo de exigir paridade no poder local.
(...) Ao longo do último século, as mulheres têm conquistado todos os direitos: deixámo-las estudar, votar, tirar a carta, divorciar-se, exigir prazer sexual, chegar à presidência de empresas, até ser árbitros, santo Deus. Mas já chega. O que Maria de Belém e Helena Roseta exigem é o direito de serem corruptas. Querem entrar na última grande coutada masculina. A última fronteira, o traço viril que nos resta. E isso nenhum homem a sério irá algum dia permitir. Nem sequer José Sócrates."
in: Inímigo Público, 10 de Junho'2005

quinta-feira, junho 09, 2005

Mais Fumo que Fogo

Começo a sentir o cheiro a mato queimado. Ainda agora está no iníco, mas vem por aí uma onda... pena que não seja de mar.

terça-feira, junho 07, 2005

Não sou nada

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo.
Álvaro de Campos

domingo, junho 05, 2005

Nem tudo vai mal

Nem tudo vai mal nesta nossa República
(Pelo menos para alguns)
Com as eleições legislativas de 20/Fevereiro, metade dos 230 deputados não foram eleitos. Os que saíram regressaram às suas anteriores actividades. Sem, contudo saírem tristes ou cabisbaixos. Quando terminam as funções, os deputados e governantes têm o direito, por Lei (deles) a um subsídio que dizem de reintegração: - um mês de salário (3.449 EUROS) por cada seis meses de Assembleia ou governo. Desta maneira um deputado que o tenha sido durante um ano recebe dois salários (6.898 erros). Se o tiver sido durante 10 anos, recebe vinte salários (68.980 euros). Feitas as contas e os deputados que saíram Erário Público desembolsou mais de 2.500.000 euros. No entanto, há ainda aqueles que têm direito a subvenções vitalícias ou pensões de reforma (mesmo que não tenham 60 anos). Estas são atribuídas aos titulares de cargos políticos com mais de 12 anos. Entre os ilustres reformados do Parlamento encontramos figuras como:
- Almeida Santos ............................. 4.400, euros;
- Medeiros Ferreira ......................... 2.800, euros;
- Manuela Aguiar ............................ 2.800, euros;
- Pedro Roseta ................................ 2.800, euros;
- Helena Roseta .............................. 2.800, euros;
- Narana Coissoró ........................... 2.800, euros;
- Álvaro Barreto .............................. 3.500, euros;
-Vieira de Castro ............................ 2.800, euros;
- Leonor Beleza .............................. 2.200, euros;
- Isabel Castro ................................ 2.200, euros;
- José Leitão ................................... 2.400, euros;
- Artur Penedos ............................. 1.800, euros;
- Bagão Félix ................................... 1.800, euros.
Quanto aos ilustres reintegrados, encontramos os seguintes:
- Luís Filipe Pereira ...................... 26.890, euros / 9 anos de serviço;
- Sónia Fortuzinhos ....................... 62.000, euros / 9 anos e meio de serviço;
- Maria Santos ............................... 62.000, euros /9 anos de Serviço;
- Paulo Pedroso ............................. 48.000, euros /7 anos e meio de serviço;
- David Justino .............................. 38.000, euros /5 anos e meio de serviço;
- Ana Benavente ............................ 62.000, euros/9 anos de serviço;
- Mª Carmo Romão ....................... 62.000, euros /9 anos de serviço;
- Luís Nobre Guedes ..................... 62.000, euros/ 9 anos e meio de serviço.
A maioria dos outros deputados que não regressou esteve lá somente a última legislatura, isto é, 3 anos, o suficiente para terem recebido cerca de 20.000, euros cada.
É assim a nossa República (das bananas) !!!!!!!!!!!!!
É ESTA A CLASSE POLÍTICA QUE TEM A LATA DE PEDIR SACRIFICIOS AOS PORTUGUESES PARA DEBELAR A CRISE...

sábado, junho 04, 2005

Estou só

Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para a glória...
Para que serve qualquer história,
Ou qualquer facto?

Estou só, só como ninguém ainda esteve,
Oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes
Mas passam sem que o seu passo seja leve.
Álvaro de Campos

sexta-feira, junho 03, 2005

O amor, segundo Cesariny


"Acredito que se possa morrer de amor... mas também se pode morrer de falta de amor.
Se eu já amei?... Tenho medo de não ter vivido um grande amor, mas tenho mais medo que ele tenha passado por mim, sem eu ter dado por isso..."
Mário Cesariny, no filme Autografia de Miguel Gonçalves Mendes

quinta-feira, junho 02, 2005

Mais um desempregado!

Já não chegavam 412 mil desempregados, alguns qualificados, outros nem por isso, alguns licenciados, outros não, e ainda por cima há mais um português à procura de emprego - Luís Figo. Agora que o presidente do Real Madrid autorizou Figo a procurar outro clube, é vê-lo de currículum na mão, a percorrer ruas e travessas, a bater à porta das direcções desportivas.
Mas, entretanto, o jogador já assegurou o subsídio de desemprego em Portugal. Regressa à Selecção Nacional de Futebol... pelo menos, até encontrar um novo emprego!