Um carro, com luzes azuis a piscar no tejadilho, apita para atravessar a multidão de espectadores. Os bombeiros correm, puxam mangueiras, tentam impedir que o fogo entre numa casa.
As mulheres, salto-alto, blusa de lantejolas, saia de festa, assistem ao espectáculo. É domingo!
Uma mão arrasta a filha, arrancada da cama a meio da noite, para "ver o fogo". É uma e meia da manhã, a menina deve ter 4, 5 anos, tem os olhos carregados de sono, e está ali, para "ver o fogo". É domingo!
Os homens falam ao telemóvel, uns estão de mãos nos bolsos, outros de braços cruzados. Um deles segura um ramo de árvore, pouco maior que um bouquet de noiva, desmaiado nas mãos sem utilidade. É domingo!
Luzes! Câmara! Acção!
Subitamente, aquele cenário ganha vida, como se acordasse de um sono adormecido. Os homens correm para as mangueiras, ajudam os bombeiros, carregam baldes de água, para matarem a sede às chamas. As mulheres encostam-se ao microfone desligado e conversam entre si, com ar (des)entendido. Algumas têm um leve sotaque francófono. Falam do que viram, do que ouviram, do que sabem daquele incêndio, ali às portas da casa.
Todos procuram os "15 minutos de fama" que Warhol lhes fez crer que têm direito. É domingo!